Dirigido por Richard Wenk e estrelado por Denzel Washington, Dakota Fanning e David Denman, “O Protetor 3” é um exemplo do crescente subgênero de filmes que apresenta justiceiros e assassinos aposentados, que vão de Liam Neeson a John Wick. Esta tendência parece mais popular do que nunca e pode ser interpretada como uma metáfora: em meio às mudanças na indústria cinematográfica, Hollywood recorre à ideia de veteranos enfrentando desafios para impor sua vontade. Denzel Washington se destacou nesse nicho com a série de filmes inspirados na série de TV “O Protetor”, agora chegando ao terceiro capítulo.
Denzel Washington não é conhecido por suas habilidades em artes marciais, e em “O Protetor 3”, Robert McCall enfrenta a máfia napolitana de maneira mais insinuada do que violenta. Ele age como um anjo da morte, vestido de preto, eliminando seus inimigos com golpes vindos das sombras. Este filme se concentra mais na gravidade e na promessa do que na violência explícita, o que pode ser frustrante para aqueles que esperam ação desenfreada à la John Wick.
Em uma época dominada pela tecnologia CGI e substituições de computador, a arma que Denzel Washington tem em mãos é quase circense em sua simplicidade: sua performance. Com a mesma precisão que McCall coloca seus guardanapos na mesa, o ator realiza seus gestos nervosos de maneira metódica e pensada. Essa teatralidade tem um toque nostálgico, lembrando uma época em que a atuação era artesanal e física. Sempre que trabalham juntos, Denzel Washington e o diretor Antoine Fuqua enfatizam a importância da presença em cena.
Neste terceiro filme, a presença de cena é ampliada pelas paisagens espetaculares da Sicília, onde os italianos moldaram rochas e mares em história ao longo dos séculos. Os melhores momentos de “O Protetor 3” estão relacionados à preparação de McCall: sua chegada ferida a uma vila onde ele reaprende a caminhar e respeitar o ritmo do local. Seu ritual meticuloso pode parecer tolo fora do contexto urbano, mas essa diferença de ambiente adiciona drama à narrativa.
No entanto, o filme perde parte desse foco quando se envolve em uma subtrama da CIA em Nápoles, que tenta recriar o encontro entre Denzel Washington e Dakota Fanning quase duas décadas após “Chamas da Vingança” (2004). Infelizmente, essa subtrama não decola e parece desnecessária, já que a missão de McCall é facilitada pela clara maldade de seus inimigos. “O Protetor 3” poderia ter se concentrado na vila de pescadores e explorado os impactos da violência de McCall nesse ambiente de maneira mais profunda, transformando-o em um anti-herói trágico, mas essa não parece ser a intenção dos realizadores.
O filme se dilui um pouco em sua metade final, mas, dado o cenário da Sicília, parece que Antoine Fuqua pode ter se inspirado em filmes como “Stromboli” (1950), que mostram a dificuldade de adaptação de um estranho a uma comunidade isolada. A Sicília se presta bem a narrativas sobre a interação do homem com o mundo e a construção do tempo. Além disso, “O Protetor 3” toma emprestado elementos visuais de “O Poderoso Chefão”, como a fotografia barroca de alto contraste e imagens icônicas, coroando seu desfecho com close-ups dramáticos e uma atmosfera católica solene.
“O Protetor 3” é um filme que valoriza a presença e a teatralidade de Denzel Washington, explorando a diferença entre o homem e o ambiente que o cerca. Embora perca um pouco de fôlego em sua segunda metade, ele oferece momentos intensos e uma narrativa que busca inspiração em grandes filmes do passado, tornando-o uma experiência cinematográfica intrigante e nostálgica.