A seca que assola a região amazônica está tendo um impacto significativo na geração de energia elétrica do Brasil. A queda nas águas do rio Madeira já resultou na suspensão das operações da usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia. Essa situação levanta preocupações sobre a possibilidade de o país precisar recorrer às usinas térmicas para suprir a demanda energética, o que, por sua vez, poderia resultar em um aumento nos custos da eletricidade para os consumidores brasileiros.
Escassez Hídrica na Região do Rio Madeira
No início de outubro, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou uma situação crítica de escassez quantitativa dos recursos hídricos no rio 30 de novembro. Os níveis de água nas estações fluviométricas principais estavam abaixo do patamar de 95% de permanência, com Porto Velho, em Rondônia, registrando níveis mínimos históricos em 56 anos de medições.
Essa declaração tem o objetivo de aprimorar o monitoramento hidrológico do rio Madeira, identificando os impactos nos usos da água e propondo medidas preventivas e de mitigação em colaboração com os diversos setores que dependem desses recursos hídricos.
O rio Madeira é um importante afluente do rio Amazonas, com uma ampla área de drenagem compartilhada entre o Brasil, Peru e Bolívia. A sua operação hidrelétrica é essencial para o suprimento de energia no Brasil, pois abriga duas usinas de grande porte: Jirau e Santo Antônio, com uma capacidade instalada total de 7.318 MW, o que equivale a 6,7% do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Impacto na Geração de Energia
As usinas hidrelétricas do rio Madeira operam em regime de “fio d’água”, o que significa que as vazões que entram e saem dos reservatórios são bastante equilibradas. No entanto, devido à seca, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) recomendou que se declarasse uma situação excepcional e temporária de escassez hídrica na bacia do rio Madeira.
A baixa previsão de melhora nas condições hidrológicas tem levado à possibilidade de acionar usinas térmicas para atender à demanda energética, especialmente nas regiões do Acre e Rondônia. Essas usinas térmicas, movidas a combustíveis fósseis, são onerosas e poluentes, o que pode resultar em um aumento nos custos da eletricidade.
El Niño e o Preço da Eletricidade
O agravamento do fenômeno climático El Niño na América do Sul, conforme projeções da consultoria Rystad Energy, representa uma ameaça adicional ao setor energético brasileiro. O El Niño deve alterar os padrões de chuvas e contribuir para a escassez hídrica, afetando diretamente a geração de energia das usinas hidrelétricas do Brasil.
Mais de 50% da matriz elétrica do país é proveniente de fontes hídricas, o que significa que as condições dos reservatórios têm um impacto direto nos custos de geração de energia e, consequentemente, nos preços repassados aos consumidores.
Devido às reservas positivas de armazenamento, as tarifas de energia no Brasil permaneceram com bandeira verde desde abril de 2022, sem custos adicionais. No entanto, qualquer redução na capacidade de geração de eletricidade pode forçar o acionamento de usinas termelétricas, o que aumentaria os custos para os consumidores.
Em 2021, uma crise hídrica semelhante resultou no acionamento emergencial de usinas termelétricas e na introdução da bandeira tarifária “escassez hídrica”, que acrescentou um custo adicional às contas de energia elétrica dos consumidores. Esse cenário elevou os preços em quase 50% em comparação à bandeira vermelha praticada naquele mês.
Escassez no Rio Madeira
A escassez hídrica no rio Madeira e a perspectiva de um El Niño mais severo representam desafios significativos para a geração de energia no Brasil. A dependência de fontes hídricas e a possível necessidade de recorrer a usinas termelétricas aumentam as preocupações com os custos da eletricidade para os consumidores. Nesse contexto, é essencial continuar investindo em fontes de energia alternativas e na gestão eficiente dos recursos hídricos para garantir um suprimento de energia confiável e acessível.